É público que a vida de um Advogado Estagiário não é um mar de rosas. Mas o episódio que a seguir se narra demonstra que nem tudo são espinhos neste trajecto.
Na passada 6ª-feira tive um jantar em Cascais. Andava por isso à procura de estacionamento quando um arrumador de gorro e jornal anexados à postura alheada me indica um lugar.
Saio do carro, que fecho à chave, e enquanto remexo nos bolsos à procura dos trocos adequados áquela prestação de serviços, o arrumador vira-se para mim e pergunta:
- Não o conheço de algum lado?
(Esta é uma questão corriqueira, principalmente nas lides nocturnas... mas não da boca do indivíduo que acabou de safar um lugarinho para o carro!)
- É possível, eu moro cá em Cascais - dou a resposta que me parece mais convincente, mas o meu interlocutor não se dá por satisfeito, retroquindo: "-Não me parece!"
Olho melhor para a cara dele, e entre os olhos corridos e a dentição mutilada faz-se luz.
- Eu não o defendi num processo? - digo, recordando a minha 1ª escala no Tribunal de Cascais, em que me calhara na rifa, como uma das iniciais intervenções, uma condução de motociclo sem habilitação legal.
- É verdade, e eu não cheguei a pagar os honorários do doutor.
- Nem tinha de pagar, o Estado é que é responsável por isso.
Terminada a breve conversa, cheguei a mão à frente para lhe entregar a devida remuneração, sendo impedido no meu propósito pela firme intervenção do profissional liberal.
- Por amor de Deus, doutor, deixe estar! - Tudo bem, então; deixei estar, despedi-me, desejando-lhe boa noite, e segui para a "Pizzaria Lucullus", pensativo no moral desta história.
1 comentário:
O reconhecimento público faz parte da profissão.
Esse episódio faz-me lembrar uma cena do livro "A Luz e as sombras"...
O encontro do doutor e do carocho. Podia ser uma fábula de La Fontaine ?!!
..... - Por amor de Deus, doutor, deixe estar! como quem diz - Agora tamos quites !
Huummmm
Abraço
Ágoas
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